Feios, Porcos e Maus


 Este filme passou na antiga RTP quando era novo e depois tive oportunidade de revê-lo quando já tinha mais de 20 anos. Nino Manfredi o ator principal num bairro de lata em Roma vive a família de Giacinto. Uma vintena de pessoas entre filhos, filhas, noras, genros e netos para além da matrona da mulher e da mãe inválida e senil de cuja pensão a família se apropria todos os meses. Comédia trágica.

Vivem apertados numa barraca miserável rodeados pelo lixo dos outros que vivem nos arranha-céus que os cercam. Giacinto dorme de arma na mão para proteger o seu tesouro, um milhão de liras que recebeu de indemnização por ter perdido um olho, e que muda constantemente de lugar, certo da cobiça da sua familia. O dia a dia desta amoral, feroz e incontrolável família entra em aceso conflito quando um dia Giacinto leva para a barraca uma divertida e gorda prostituta. 

A família "em pé de guerra" tenta envenenar Giacinto durante o batizado de um neto. Este sobrevive ao raticida e por vingança deita fogo à barraca, vende o terreno a outra família e no fim acabam todos, os novos locatários e a família de Giacinto, por partilhar a velha e decrépita barraca.


Prémio Para a Melhor Realização no Festival de Cannes de 1976 "Feios, Porcos e Maus" confirmou Ettore Scola como um dos mais inspirados cineastas italianos dos nossos dias. Na verdade Scola é um dos mais nostálgicos continuadores da grande sátira social ao mesmo tempo que soube reinventar e evocar de forma notável toda a tradição poética, neo-realista e romanesca do cinema italiano.

 Debruçando-se sem paternalismos, análises sócio-políticas ou mesmo juízos morais, em "Feios, Porcos e Maus" Scola constrói uma sátira espantosa, hilariante, mordaz, sórdida, desconcertante e absolutamente amoral sobre o cruel e alucinante quotidiano de uma miserável família romana "das barracas". Uma crónica de sabor trágico-burlesco que reflete toda a miséria humana deste nosso "admirável Mundo novo" europeu, ocidental e rico através de uma farsa truculenta, de um humor irresistível e contagiante mas ao mesmo tempo de uma amargura e de um desencanto perturbadores. Uma grande realização de Scola que conta com uma portentosa interpretação de Nino Manfredi no protagonista, mais uma vez demonstrando ser um dos comediantes mais talentosos do cinema italiano.

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